domingo, julho 18, 2004

O Casamento

Há dois sábados atrás casou uma prima minha chamada vanessa, filha da minha madrinha, que é prima da minha mãe. Enfim, estávamos numa primaiada que só. Foram meus pais e eu rumo a Igreja São João, na Vila Carrão, Zona Leste de São Paulo.  Chegamos bem em cima da hora, a noiva estava quase a entrar na igreja. Isso porque ficamos vendo o fracasso do São PAulo perante o Santos. O clima no táxi era terrível: meu pai tentando falar algo, enquanto eu, em pleno mau humor, me calava e me indagava como o Ricardinho podia ter feito aquele gol aos 48 minutos do segundo tempo. Mas enfim... é vida que segue.
 
Mesmo  com o atraso eu quase não assisti a cerimônia, pois o cara que tocava uma corneta barulhenta, anunciando a entrada da noiva é um amigo que trabalha na HP. Quase não acreditei, nem ele, quando ouviu eu chamando pelo seu nome. Joel toca trumpete - o trumpete da igreja é chamado de triunfal, por causa de uma flâmula com um anjo tocando uma corneta, frescura - e vai tentar entrar na USP esse ano para fazer Música. Não acreditei, pois ele mora em Parelheiros, extremo sul da capital. E, pior: ele me disse que toca sempre lá, é até trumpetista fixo da igreja, pode?
 
Depois de ele tocar "Zaratusta" - foi ele quem disse, eu desconheço, apesar de achar o som semelhante aqueles temas de Star Wars - começou a marcha nupcial, que é de Mendelshon. Isso eu não sabia e achei formidável. bem, depois que ele desceu e eu o chamei, ficamos conversando um tempão sobre várias coisas, ainda surpresos por termos nos "achado" por ali, até chegar o fim da cerimônia e ele subi para tocar com a banda mais duas canções, belíssimas, por sinal.
 
Voltei ao casamento e ainda peguei os cumprimentos dos padrinhos, pais, aquela coisa toda. Vi minha outra prima Fabiana, irmã da noiva, chorar copiosamente, enquanto abraçava a irmã recém casada. A Fabi, como sempre a chamávamos quando pequena, tem a minha idade, nasceu um mês antes que eu apenas. Ela era legal, eu gostava dela prá caramba, brincávamos muito quando eu visitava-os. Mas hoje ela me aprece um tanto quanto distante, natural, apesar de tê-la achado meio esnobe, à distância. Devo, e espero, estar enganado. Minha mãe disse que ela está solteira, pois o namorado dela era muito ciumento e aí ela não aguentou. É foda isso, acabar umrelacionamento por causa de ciúme, as pessoas precisam repensar o que desejam para si nessa vida. Sei lá, divaguei aqui. Mas foi um momento bonito, como sempre, o cumprimento dos pais ao casal. Tudo sempre igual, também.
 
A noiva estava linda. Segyundo minha mã,e com um "tomara que caia", que na verdade, quer dizer que o vestido ia até a parte acima do busto, todo branco, cheio de coisas brilhantes que reluziam por toda a igreja. O buquê de flores vermelho-vinho contrastava magnificamente com alvura de seu vestido, enquanto que seu sorriso se ponta a ponta lembrava, nas covinhas, buchechas e queixo, a mãe dela, minha madrinha Irene.
 
Bem, fim do casório, hora da festa! Se bem que isso podia ser dispensado. Odeio fazer média nesses lugares que não conheço ninguém, sentando em mesas com pessoas desconhecidas, com cara de poucos camigos, enquanto sorvia goles e mais goles de líquidos alcoólicos como cerveja, uísque e batida. Eu levei o walkman e ligava-o, discretamente, para saber o placar dos jogos do Corinthians e, principalmente, do Palmeiras, concorrente direto do São Paulo pelo título Brasileiro. Mas não deu, um cara viu e perguntou como estava o placar dos jogos e eu louco para ir embora, assim como meu pai, que não tem saco para nada. A coisa só melhorou quando os noivos, que passavam de mesa em mesa cumprimentando os convidados, vieram até a nossa e a Vanessa, de forma cortêz e amigável nos convidou para sentarmos à mesa da família dela. Foi a salvação. A partir dali a festa começou para mim. Se bem que nada de anormal ocorreu, a não ser uma bebedeira dos diabos até o fim da festa.
 
Houve dança, as mesmas músicas de sempre, das antigas e tudo o mais, enquanto meu pai e eu ficávamos lá no fundo, bebendo e observando o nada, enquanto minha mãe dançava no meio do povo. No final, nos despedimos dos noivos e, finalmente, o Anderson, marido de minha prima, me cumprimentou, depois de duas gafes dele, em ter fingido que eu não existia. Mas enfim, não vou ligar para isso, pois eu já me sentia deslocado o bastante daquela gente toda que eu não conhecia, a não ser uma ou outra tia ou primo de vigésimo grau, parentes de minha mãe. Foi bom para ela, que não tem nenhum parente próximo vivo, e essas pessoas todas ela não verá tão cedo.
 
Para mim fi estranho, pois é um mundo distante do meu. Senti-me nostálgico por rever minha madrinha, meu apdrinho Osmar, meus primos e lembrar do tempo que eu os visitava, dormia na casa deles, passava semanas de férias lá. Era tão bom, gostoso, me divertia as tantas. Lembro quando acordava cedo e passava eprto do banheiro que meu padrinho fazia a barba e tomava banho logo cedo ouvindo a CBN, antes de ir trabalahr. Quando eu tomava banho minha madrinha me chamava, porque eu demorava muito, e ela achava que tinha me acontecido algo, ou era apenas para não gastar muita água.  isso numa das casas, pois eles sempre se mudaram muito por aquela região do Carrão, Vila Formosa, Vila Rica. Tudo ali perto. É um tmepo que se foi. Isso me deu um certo medo aquele dia, de não ver mais minhas primas, agora que estão crescidas. Sei lá porquê. Coisas bobas, mas que mexem conosco e só fazem sentido para nós. Vai ver eu estava bebado e reparei tudo isso com maior sensibilidade naquela festa. Enfim.
 
Já passava das onze e meia da noite quando pegamos um táxi  de volta para casa, novamente, pois minha mãe está com o pé machucado e usava um salto. Enquanto isso, a luz cega da noite iluminava tudo com uma calma que só o silêncio da negra escuridão noturna podia agraciar nossas almas, enquanto partíamos pelas ruas caladas e quentes da zona leste paulista. Umas gotas de sereno caíam nos vidros do carro e tudo pareceu bem de novo.
 

quinta-feira, julho 15, 2004

Uma Noite nas Arábias...

Nossa, acho que estou ficando viciado em Bohemia. Estou tomando uma lata que sobrou de domingo, enquanto escrevo estas linhas. Toda semana tenho saído com meus amigos de cana da faculdade, Fabrizio e Thiago, vulgo “Black”, para tomar em botecos da avenida paulista, bares perto da faculdade, de casa, enfim, cada semana baixamos em algum que contenha algum teor alcoólico para degustarmos. Na verdade o Fabrizio ficou ausente por quase um mês, pois ele estava com problemas de saúde. Mesmo assim, eu e meu comparsa Black mantivermos firme na luta cervejeira!

Ontem estava tudo acertado para sairmos, mas um desfalque financeiro de Black quase impediu a farra. Mesmo assim, eu estava empenhado na minha comemoração, afinal, ontem foi meu último dia de Teletech/Hewlett-Packard, e eu queria comemorar a quebra daqueles grilhões e amarras que me desviavam do meu destino jornalístico. Faltando cinco minutos para às cinco da tarde liguei para os dois, falei para o Black desencanar com grana - afinal, eu tinha vendido o resto dos créditos do vale refeição e tava com “bala na agulha” - e avisei o Fabrizio que estava louco para ir. E fomos.

Mas dessa vez foi legal. Finalmente eu fui ao Dunas numa quarta-feira. O Dunas fica ali no bairro da Penha, Zona Leste de São Paulo, numa avenida enorme que corta o bairro Cangaíba e da Penha, conhecida como “Tiqüatira”. É um “bar” ambientado nas tradições árabes. É fantástico, pois tem todo um cardápio voltado para a culinária desta região do Oriente Médio, além de diversos tipos de cervejas (as cervejas são deixadas em baldes de gelo, então não há como esquentar!), vinhos e outros tipos de bebida, além do fumo árabe. Puta merda, como é bom esse troço! Voltei a fumar ontem, e como! Graças a isso.

Alguém se lembra de um episódio do desenho do Pica-Pau que ele e o Zeca Urubu estão por aquelas bandas tentando conquistar uma garota linda, filha de um sheik, faraó, ou algo que o valha? Aí ela está trancada num castelo e eles ficam o episódio todo disputando a chave. Em um momento a chave cai num troço que eles ficam sugando a chave cada um para seu lado, até se cansarem. Captaram? Então, aquilo é o “cigarro” deles. Põe-se a brasa na parte superior, há um cinzeiro para conter as cinzas da brasa que se dissipa logo abaixo do suporte à brasa. Dali, a fumaça desce até a parte inferior, onde há uma água fervente que borbulha a cada tragada da pessoa através daquele "caninho". E é um fumo aromático. No Dunas tinha de maçã e hortelã. Como eu não suporto maçã, ordenei que fosse de hortelã e não fui contestado, ainda bem. Mas estava ótimo! Vou cheirar a hortelã durante um mês! Mas é fabuloso aquilo. Num dá nem para sentir que fuma. Mas o melhor ainda está por vir.

O motivo de eu desejar tanto ir numa quarta-feira lá transcende minha despedida da HP. É que às quartas-feiras o grandioso gênio daquele lugar teve a excelente idéia de colocar moças para dançarem como odaliscas lá. Que show aquilo! Eram três garotas, lindas, lindas. Uma é uma morena de cabelo liso, não muito alta, mas com um corpo fantástico. Ela estava com uma roupa de um azul arroxeado, que reluzia de tantos adereços brilhantes, além de seu piercing convidativo no umbigo. A segunda estava de amarelo. Cabelos encaracolados, uma bunda gigante e um corpo de violão magnífico! “Que barriga é aquela”, bradavam os três companheiros de canão que já uivavam feito lobos em dia de lua cheia. Ela remexia-se bem, levando a galera ao delírio com seu sorriso, trejeitos e delicadezas da dança.

A terceira era uma graciosa baixinha que estava toda de azul, repleta de purpurina pelo seu corpo pequeno, mas carnudo. Ela veio até a nossa mesa, que ficava na ponta, próximo à entrada, mas que estava cheia de cadeiras, dificultando a passagem das beldades. Mas a gente mexeu nas mesas, jogou cadeira longe, só para abrir caminho à elas. E ela veio e ficou dançando quase na minha cara, na nossa frente. Ai meu Deus, o quê era aquilo. Ela tremia o quadril, a barriga, o tronco, tudo, me levando as alturas da imaginação e do êxtase. Eu, com o fumo árabe na boca, puxava aquilo com tanta força que parecia que ia explodir de tanto ar e fumaça dentro dos pulmões! Ela inclinou-se para trás e prosseguiu com os estremiliques, há essa hora eu, já petrificado, apenas observava.

Quando ela se dirigiu a outra mesa, depois de passar uns momentos na frente de meu colega, para desafogo dele, eu suguei com toda a vitalidade juvenil aquele fumo árabe e depois puxei um Marlboro do Black, pois eu já não podia deixar aquele momento impune, dado o desespero de ver aquela cena. É muita coisa para um homem só, e “só” nos dois sentidos. Como disse Black em meio ao espetáculo, “Se eu tiver um infarto me leva no instituo do coração, pois não estou agüentando mais”, exagerando, claramente. Mas esses excessos eram pura diversão e a noite de quarta-feira foi um grande barato, agradando a gregos, troianos, árabes e brasileiros, mais que todos!

O mais louco é que aquilo estava cheio de gente – de mulheres também, devidamente acompanhadas de seus parceiros masculinos que há essa hora já pensavam melhor a relação, depois de tantas maravilhas que inebriaram seus despertos olhos –, tanto que havia fila para entrar no Dunas, e isso era mais de 11:30, quando resolvemos ir embora, afinal, o metrô fecha cedo e os outros dois iam trabalhar hoje, ao contrário de mim.

Foi fantástico, fui pra casa aliviado, tendo comemorado de forma gloriosa e magnífica o fim de um ciclo na minha vida muito importante e iniciando, definitivamente, outro que terá muito mais impacto em minha vida. Saí de lá no lucro, depois de um dia tão estafante, uma noite maravilhosa, abençoada por Alá e pelo céu negro e sem nuvens, que avistava-nos lá de cima. Viva a Bohemia! “Boemia, a que me tens de regresso...”. Agora dá licença que tem umas Bohemias me esperando para tomar!

quarta-feira, julho 07, 2004

Campinas, uma cidade legal*

Acho que estou pegando o costume em escrever no metrô. Me colocar à frente do computador para escrever essas crônicas obrigado não tem funcionado. Acho que o metrô me traz mais liberdade, não tem prazo, além de possuir algumas vezes detalhes enriquecedores. Mas não sei, preciso parar de me obrigar a fazer coisas não decisivas e dar mais atenção ao meu trabalho, ao meu livro, a agência, coisas que eu fujo às vezes por insegurança. Oras, todo mundo tem isso, um mais, outros menos.

Dessa vez vou ouvindo música, um componente vital para mim. No cd player todo estropiado do meu amigo Fernando toca Pisces Iscariot, dos Smashing Pumpkins. Tem coisas calmas e pesadas, baladas de violão e percussão, barulheiras infernais e solos longos, sendo, portanto, uma boa variação para às 6 da manhã. Agora estou no metrô Patriarca.

Engraçado, vi uma mulher andando na plataforma do metrô Artur Alvim que me lembrou uma grande amiga a quem estimo muito, mas que, por situações que a vida nos prega, se afastou um tanto de mim, o que é até compreensível. Mais engraçado é que na Secretaria do Trabalho, sexta-feira passada, durante a apresentação que fizemos do projeto da agência de notícias para um evento do Programa Bolsa Empreendedor, vi uma garota que parecia por demais esta amiga. Estava sentada ao lado de sua colega, muito próximas a mim e de Daniel, e soltava uns olhares em nossa direção. Mas era quase que idêntica, eu cheguei a acreditar que... o nariz fino, o rosto bochechudo, a testa um tanto quanto alta, os longos e enrolados cabelos castanhos (o detalhe da cor não diz muito afinal, minha amiga cada dia está com uma bela cor diferente para suas madeixas) e uma altivez que me fez olhar umas três vezes para ter a certeza de que não era ela mesmo. Mas a menina era mais espigada, e ficou rindo durante minha apresentação. E assim, perdeu-se o encanto.

Acho maluco isso de lembrar de outra pessoa ao ver algum desconhecido na rua. Isso me aconteceu semana passada com outra amiga, que mora perto de casa e, depois que a vi, qualquer menina me lembrava ela. É bem provável que seja pelo fato de que há quase um ano não nos encontrávamos, além do que ela é bastante agradável, estimo a presença de tal criatura.

Estou no metrô quando o dia ainda não surgiu. Interessante poder acordar mais cedo e observar esse tipo de coisa. O céu ainda estonteantemente escuro, os trilhos quase invisíveis, as luzes dos prédios e dos postes a clarear o negro fim de madrugada. O metrô vazio da loucura das 7 horas, e uma tranqüilidade sem tamanho de uma cidade que ainda desperta.

Tem um garota loira aqui próximo, de cara com o banco. Eu notei que havia alguém e fitei-a discretamente. Bela garota de cabelos amarelos, de rosto bonito e cansado, nariz de batatinha (não chega a ser de batata, mesmo), com um ar enfadado – agora ela pôs-se a dormir de pé, com as mãos segurando-a na barra. Ela passou a observar meus escritos e depois me notou, deve me achar um lunático e ainda um imbecil, por escrever em garranchos tão horrorosos. Estamos no metrô Bresser.

Queria falar sobre a viagem à Campinas, na quinta-feira passada, mas eu não lembro de muitos detalhes. Só sei que conheci a Unicamp, meio sem querer, pois for por causa de uma lotação errada que tomei na Rodoviária, me levando a outro destino. Cheguei bem tarde à casa da professora Tatiana, motivo de minha viagem, mas nada que comprometesse, pois o dia foi pouco produtivo (tocou o celular de uma mulher sentada à minha frente, fez um leve barulho e acendeu uma luz verde no visor, mas a mulher, dona do celular, prosseguiu de braços cruzados, dormindo).

Mas a casa da Tatiana é um barato. A tia dela é argentina e está no Brasil para cuidar de sua irmã (mãe da professora) que quebrou o fêmur mês passado. Argentino é um povo legal, essa rixa com o brasileiro é invenção nossa e coisa de nacionalismo (tanto de lá como de cá) bobo. Argentino babaca há como também há brasileiro imbecil, isso independe de qualquer coisa. Já a mãe da Tatiana, por causa do infortúnio, reclama de tudo, briga com todos, mas me foi muito cortês e simpática. Ela e o marido moravam em Portugal, mas resolveram ficar de vez no Brasil.

A irmã da Tati (eu, Daniel e Renato ficamos quase íntimos já da professora, de tantos trabalhos que realizamos juntos desde o ano passado, por isso a licença de cerimoniais) está no Brasil também, linda, já foi modelo, está com o marido português e seus três filhos, que são uma graça, principalmente a “Mini”, de 4 anos (num lembro do nome dela) e o Rafael de 7 meses (resolvi transcender o papo do metrô, pois há ainda muito o que escrever, estou dentro de um ônibus no Terminal Bandeira, no centro, para ir trabalhar[1]). Tem também o Gabriel, de 7 anos, ele é caladão e tímido, nem quis conversa com a tia, enquanto eu estava por lá. Já o Rafinha é uma alegria sem tamanho, sorria para mim a todo o momento e eu brinquei muito com ele, apesar da minha falta de jeito em pegá-lo, enquanto tentávamos fazer trabalho, já que Tati tinha que cuidar da criança, pois os pais haviam saído com as outras crianças.

Campinas é uma cidade legal, sem muitos prédios, com muitas casas e verde, muito verde. Isso que me chamou a atenção, já que em São Paulo só se vê o cinza dos prédios espetando o céu azul-cinza-poluição. Campinas pareceu-me bastante plana – o que caiu por terra num segundo passeio de carro pela cidade, repleta de subidas e descidas em alguns pontos –, com seu matagal de beira de estrada. E eu sou louco para conhecer o Parque Taquaral, que passei em frente duas vezes que naquela cidade fui, mas nunca tive a chance de adentrar lá (clima bem interiorano, quente, com as plantações de milho do lado da estrada, onde desço para a casa da Tati; clima ótimo, adoro viajar e sentir o chão, o vento, a vida do interior e apreender um pouco disso). Parece muito bonito o parque, com um lago enorme, repleto de árvores e, também, dá para correr em volta dele, que possui uma pista cimentada em todo o seu entorno (tá foda escrever com o ônibus em movimento).

O Centro de lá é movimentado, mas muito tranqüilo quando se pensa no centro da capital paulista; e olha que dessa vez eu fui numa quinta-feira. A Rodoviária é simples, com o andar inferior das plataformas dos ônibus, com banca de jornal e banheiro, e, em cima, as cabines (sei lá o nome disso) que vendem bilhetes, uma pequena livraria e várias lojas para comer, incrível. Esse andar superior dá saída para uma rua apertada, que fica parada à noite de tanta gente que lá passa para deixar/pegar alguém. Virando ao fim da rua, à esquerda, nota-se uma pracinha insignificante e o andar de baixo dos ônibus, junto à descida do asfalto.

Passei um dia agradável e na volta Tati deu carona até a Rodoviária. Fui presenteado com um final de tarde magnífico. Mesmo escuro já, quando paramos num farol, observei à minha direita, atrás de uma cerca avolumada por árvores, uma parte baixa de Campinas e vi o céu lindo, com diversas cores como azul, rosa, vermelho, amarelo, laranja, se misturando e formando um quadro delicioso na noite campineira. Bom para fechar o dia. Agora eu preciso ir lá um dia à passeio para conhecer a cidade e saborear melhor momentos como esse.

[1] O centro de São Paulo é mui belo, mesmo. Na passagem do metrô Anhangabaú que dá acesso ao Terminal Bandeira dá para ver o início da avenida Nove de Julho e, com isso, o centro iluminado, pois o dia ainda amanhece. O interessante é que as luzes artificiais dos postes e naturais do céu contrastam com os paredões de concreto. Simplesmente fabuloso.

* Texto escrito na segunda-feira pela manhã, à caminho do trabalho.

sábado, julho 03, 2004

Nos Trilhos do Metrô

E as coisas mais simples são mesmo difíceis de se dizer. Engraçado esse verso. Mas creio que ele tem muito significado. É do Marcelo Bonfá e do Gian Fabra, da música "Todos os Sonhos do Mundo", do primeiro disco do Bonfá, O Barco Além do Sol. Estou no metrô, retornando do inglês agora. Tive uma nota muito boa no teste oral (9,5), surpreendente para a professora, que já havia fechado minha média em 8 e agora vai ter de reformular no sistema para 8,5. Na prova escrita eu tirei 8,1 e na prova do meio do curso que perdi na época da operação no cisto tirei 7,5, fiz correndo por causa do pouco tempo que existia para concluir o trabalho - tinha redação, conto para escrever, muitas atividades. Por tudo isso notei que preciso arrumar mais tempo para estudar o Inglês durante a semana e não só de sábado e, também, não só meia hora por semana para fazer os exercícios e compreendê-los melhor, relacioná-los com outras partes dos livros.

Um aparte aqui: tem um cara próximo, de cabelo loiro espetado e cavanhaque ralo, óculos de aro preto, camisa e relógios escuros e calça e tênis cinza, cara de perdido, fica emitindo uns sons estranhos, identificáveis, shhh, algo assim. Agora ele levantou para descer na estação Sé, vi que ele é retraído, "nerdão", sei lá, tem uma corrente dourada.

Sentou uma mulher do meu lado, eca, fica fazendo barulho com a boca, coisa de velho mesmo. Isso me lembra dia desses um senhor que fazia o mesmo, só que com a ponte de ferro dele, produzindo um barulho tenebroso, nojento,. Ainda bem que desci 3 (acho) estações depois que entrei.

Bem, agora o metrô entra definitivamente na parte leste do ramal leste-oeste do metrô, conhecido como linha 3 - vermelha. O sol brilha forte dentro do vagão, no meu diário, na minha bolsa verde rasgada (a mulher que faz barulho com a boca saiu do meu lado, ufa!) e nos bancos, onde pessoas diversas estão sentadas (menos do meu lado e à minha frente, deve ser o Sol), indo para sei lá onde.

O daniel me disse algo legal ontem. Estávamos na Vila (ex-operária) Maria Zélia, houve um evento para discutir as melhorias e resaturações a serem feitas na vila, etc., com vários políticos, secretários, pagens, líderes comunitários que não representam nada e aquela gente toda interessada numa ex-vila operária caindo aos pedaços e ambos tentando entender o porquê de tal interesse (estamos no túnel agora, o metrô balança muito, atrapalha demais a escrita*) e ele me dizia para observar as pessoas e tentar apreender o que elas pensam, o que fazem, porque fazem, naquele momento. Aqueles caras de gravato, engomados, roupa social e tudo o mais. Secretários do município que devem (ou não) ser bons para estarem lá.

Novo aparte: uma mulher entrou no vagão pedindo dinheiro, frustrante e eu me sinto mal, ela ficou me olhando, numa clemência de afligir a alma. Mas também não dou dinheiro, sei lá, tenho pouvco, é foda: a gente gasta com tantas porcarias e para essas coisas não temos. Acabei dando tudo o que tinha na carteira: eram três reais em notas e mais um bando de moedas de um real, 10, 25 e 5 centavos, nem vi quanto tinha.

É que eu sempre lembro de uma passagem na Bíblia (nem sei mesmo se tem isso lá ou se vi na tevê algo asim ou li em algum lugar) que, de forma resumida, diz que é fácil darmos o que temos sobrando, mas são poucos e abençoados aqueles que dão tudo o que tem para ver o bem do outro. Isso sempre vem à cabeça quando alguém pede e, por isso, resolvi ficar bem comigo mesmo e, também, liso de grana - eu não sei se estou certo em dar dinheiro, mas ela pareceu necessitada e eu fiquei inquietado a dar o que tinha à ela. o Daniel sempre fala que temos muito Deus perto da gente na nossa vida e eu acredito nesse meu amigo, então, isso, aliado à momentos como esse, me fazem crer em algo que nos impulsiona a fazer o bem, seja lá o que isso queira significar.

Aí vem a porra do cara do metrô e diz no alto-falante que pedir esmolas é uma prática ilegal e diz para não incentivarmos isso - aliás, o metrôs diz tantas coisas que devemos fazer e não fazer, já repararam? um dia eu vou ter a paciência de ouvir todas as mensagens e trazer para um texto, publicá-las todas, seria algo interessante. Eu gostaria de ver esse cara sem trabalho, sem comida e vendo seus filhos chorarem de fome para ver se ele concorda com as baboseiras que ele pronuncia sem pensar naquele microfone metálico.

Agora, voltando ao papo sobre observar pessoas surgido no evento da Maria Zélia, poxa vida, é muito louco isso... O Daniel disse que as pessoas pensam, tem medo... Tudo muito óbvio, mas ninguém pára para fazer isso, numa roda de pessoas e um outrem à distância, tentando saber o que , naquele momento, cada um pensa, o careca que franze a testa, o gordo que ri, a menina que olha para o meu amigo e caminha displicente, etc. E nisso, ele disse que todo mundo tem medo e eu completei que, por trás daquele rosto e riso há um medo forte naquela pessoa. E é isso mesmo, creio eu. Porquê esse papo? Oras, você (eu) perceber que todos tem medo e, até aquele cara confiante, prá cima, está nervoso ante uma apresentação de projeto, por exemplo, lhe traz um alívio e uma confiança maior na pessoa, porque todos que vivem tem medo de alguma coisa.

Estou chegando no Artur Alvim e essa droga continua a balançar muito. Encerro por aqui, pois cheguei a meu destino. Tantas coisas para escrever, pensar, viver. Outra hora eu continuo.

*Nota do Editor: Como deu para reparar, os escritos foram feitos à mão em meu diário, por isso mesmo mantive os tempos verbais das frases e os chistes originais do momento em que escrevi essa pseudo-crônica, que gostei de chamar assim.