quinta-feira, julho 15, 2004

Uma Noite nas Arábias...

Nossa, acho que estou ficando viciado em Bohemia. Estou tomando uma lata que sobrou de domingo, enquanto escrevo estas linhas. Toda semana tenho saído com meus amigos de cana da faculdade, Fabrizio e Thiago, vulgo “Black”, para tomar em botecos da avenida paulista, bares perto da faculdade, de casa, enfim, cada semana baixamos em algum que contenha algum teor alcoólico para degustarmos. Na verdade o Fabrizio ficou ausente por quase um mês, pois ele estava com problemas de saúde. Mesmo assim, eu e meu comparsa Black mantivermos firme na luta cervejeira!

Ontem estava tudo acertado para sairmos, mas um desfalque financeiro de Black quase impediu a farra. Mesmo assim, eu estava empenhado na minha comemoração, afinal, ontem foi meu último dia de Teletech/Hewlett-Packard, e eu queria comemorar a quebra daqueles grilhões e amarras que me desviavam do meu destino jornalístico. Faltando cinco minutos para às cinco da tarde liguei para os dois, falei para o Black desencanar com grana - afinal, eu tinha vendido o resto dos créditos do vale refeição e tava com “bala na agulha” - e avisei o Fabrizio que estava louco para ir. E fomos.

Mas dessa vez foi legal. Finalmente eu fui ao Dunas numa quarta-feira. O Dunas fica ali no bairro da Penha, Zona Leste de São Paulo, numa avenida enorme que corta o bairro Cangaíba e da Penha, conhecida como “Tiqüatira”. É um “bar” ambientado nas tradições árabes. É fantástico, pois tem todo um cardápio voltado para a culinária desta região do Oriente Médio, além de diversos tipos de cervejas (as cervejas são deixadas em baldes de gelo, então não há como esquentar!), vinhos e outros tipos de bebida, além do fumo árabe. Puta merda, como é bom esse troço! Voltei a fumar ontem, e como! Graças a isso.

Alguém se lembra de um episódio do desenho do Pica-Pau que ele e o Zeca Urubu estão por aquelas bandas tentando conquistar uma garota linda, filha de um sheik, faraó, ou algo que o valha? Aí ela está trancada num castelo e eles ficam o episódio todo disputando a chave. Em um momento a chave cai num troço que eles ficam sugando a chave cada um para seu lado, até se cansarem. Captaram? Então, aquilo é o “cigarro” deles. Põe-se a brasa na parte superior, há um cinzeiro para conter as cinzas da brasa que se dissipa logo abaixo do suporte à brasa. Dali, a fumaça desce até a parte inferior, onde há uma água fervente que borbulha a cada tragada da pessoa através daquele "caninho". E é um fumo aromático. No Dunas tinha de maçã e hortelã. Como eu não suporto maçã, ordenei que fosse de hortelã e não fui contestado, ainda bem. Mas estava ótimo! Vou cheirar a hortelã durante um mês! Mas é fabuloso aquilo. Num dá nem para sentir que fuma. Mas o melhor ainda está por vir.

O motivo de eu desejar tanto ir numa quarta-feira lá transcende minha despedida da HP. É que às quartas-feiras o grandioso gênio daquele lugar teve a excelente idéia de colocar moças para dançarem como odaliscas lá. Que show aquilo! Eram três garotas, lindas, lindas. Uma é uma morena de cabelo liso, não muito alta, mas com um corpo fantástico. Ela estava com uma roupa de um azul arroxeado, que reluzia de tantos adereços brilhantes, além de seu piercing convidativo no umbigo. A segunda estava de amarelo. Cabelos encaracolados, uma bunda gigante e um corpo de violão magnífico! “Que barriga é aquela”, bradavam os três companheiros de canão que já uivavam feito lobos em dia de lua cheia. Ela remexia-se bem, levando a galera ao delírio com seu sorriso, trejeitos e delicadezas da dança.

A terceira era uma graciosa baixinha que estava toda de azul, repleta de purpurina pelo seu corpo pequeno, mas carnudo. Ela veio até a nossa mesa, que ficava na ponta, próximo à entrada, mas que estava cheia de cadeiras, dificultando a passagem das beldades. Mas a gente mexeu nas mesas, jogou cadeira longe, só para abrir caminho à elas. E ela veio e ficou dançando quase na minha cara, na nossa frente. Ai meu Deus, o quê era aquilo. Ela tremia o quadril, a barriga, o tronco, tudo, me levando as alturas da imaginação e do êxtase. Eu, com o fumo árabe na boca, puxava aquilo com tanta força que parecia que ia explodir de tanto ar e fumaça dentro dos pulmões! Ela inclinou-se para trás e prosseguiu com os estremiliques, há essa hora eu, já petrificado, apenas observava.

Quando ela se dirigiu a outra mesa, depois de passar uns momentos na frente de meu colega, para desafogo dele, eu suguei com toda a vitalidade juvenil aquele fumo árabe e depois puxei um Marlboro do Black, pois eu já não podia deixar aquele momento impune, dado o desespero de ver aquela cena. É muita coisa para um homem só, e “só” nos dois sentidos. Como disse Black em meio ao espetáculo, “Se eu tiver um infarto me leva no instituo do coração, pois não estou agüentando mais”, exagerando, claramente. Mas esses excessos eram pura diversão e a noite de quarta-feira foi um grande barato, agradando a gregos, troianos, árabes e brasileiros, mais que todos!

O mais louco é que aquilo estava cheio de gente – de mulheres também, devidamente acompanhadas de seus parceiros masculinos que há essa hora já pensavam melhor a relação, depois de tantas maravilhas que inebriaram seus despertos olhos –, tanto que havia fila para entrar no Dunas, e isso era mais de 11:30, quando resolvemos ir embora, afinal, o metrô fecha cedo e os outros dois iam trabalhar hoje, ao contrário de mim.

Foi fantástico, fui pra casa aliviado, tendo comemorado de forma gloriosa e magnífica o fim de um ciclo na minha vida muito importante e iniciando, definitivamente, outro que terá muito mais impacto em minha vida. Saí de lá no lucro, depois de um dia tão estafante, uma noite maravilhosa, abençoada por Alá e pelo céu negro e sem nuvens, que avistava-nos lá de cima. Viva a Bohemia! “Boemia, a que me tens de regresso...”. Agora dá licença que tem umas Bohemias me esperando para tomar!