segunda-feira, agosto 25, 2014

A angústia e a busca por um sentido

Tu sai do trabalho exausto e contente porque deu tudo certo. O fim de semana chega, a pulga se acalma atrás da orelha e tu vai passar dois dias de uma correria imensa e intensa atrás das fugas sazonais para esquecer o que te aflige e que te impedem de parar para refletir o que você não quer mais sentir. Enfim, o domingo à noite chega e com ele vem a não-vontade de dormir, que invade a madrugada e afeta a tua manhã de segunda. A pulga já virou um cão e se mudou para o estômago, a incomodar e a questionar os rumos daquele dia e semana, já esperando o outro fim de semana completo, só daqui 15 dias.

Essa insatisfação crescente e presente não importa o lugar está me matando. Ou me levando a lugar algum, a mudanças frequentes, a pular daqui para ali, na busca por algo que nem sei o que é, a ir atrás para algo que vá dar conforto temporário e depois vai se transformar no novo incômodo e no olhar para o futuro como o bálsamo, a salvação do presente torturante. E assim se passaram dois, três, quatro, cinco anos. E nada se encaixa.

As limitações materiais da vida de classe média-baixa impedem que os sonhos se materializem sem anos e muito sacrifício. Mas a minha dificuldade de enxergar um sentido para essa sandice rotineira que visa a algo distante impedem que planos, que foram traçados, sejam levados à frente. Talvez porque o plano não é o que desejo arduamente, mas sim um meio termo, uma procrastinação, um subterfúgio, até o próximo período de angústia.

Por outro lado, a cegueira me faz olhar o passado com saudosismo, como um período bom, ainda que de igual angústia. Quando na verdade  foram apenas boas passagens, experiências e histórias para contar, pois a insatisfação e a angústia permaneceram. E permanecem. Permanecerão. Até em trechos de tempo bons as dificuldades materiais eram enormes - o meu projeto mais legal de ter feito o fiz quase sem grana e na incerteza de receber. Ou seja, nada é fácil, nada é certo.

Percebo, de tudo isso, a ausência de equilíbrio do presente, já que o pretérito foi saudoso e o futuro será a redenção. A minha incapacidade de saborear o agora sem botar um "porém", um "mas", um "talvez" é gritante. Sempre um projeto se interpõe entre presente e futuro, porque o presente nunca me é satisfatório. Sempre encontro obstáculos e problemas que me desestimulam, amálgamas de tarefas, rotinas e falta de tempo me amarram, tirando o foco daquilo que realmente vale a pena. Seja o projeto futuro que deve ser construído já, ou mesmo dos aprendizados do presente.

Falta paciência, falta foco. Mas falta, principalmente, um objetivo claro, uma sensação e felicidades palpáveis, que sejam a meta a ser buscada, para agora ou para o futuro. Estou cansado de gastar energia e intelecto para o proveito de outros e já não vejo futuro naquilo que estou fazendo. E isso frustra demais. É um sobe e desce de sentimentos, em que vive-se a dicotomia de gastar neurônio em algo que já foi, quando devia ser o foco o que se apresenta. E é cobrança, mecanismos de pressão e a própria cabeça pressiona. E o escape é pensar em algo totalmente fora do costume, projetando naquilo a redenção. No sonho, no pensamento, é a salvação plena. Mas basta começar a cavucar a realidade para os variados obstáculos assustarem e daí tu percebe que falta consistência naquilo.

O que mais incomoda é justamente essa angústia que vai e vem e reflete a total incapacidade de prover a felicidade a sia próprio. Os bons momentos são apenas momentos. Os maus são outros momentos. Mas o que fica é a incerteza, a angústia de não ter um sentido claro e definido. A falta de um norte, mesmo quando há tantas direções a sua frente, é o que engessa e deprime. Eu que faço tanta coisa no dia a dia, mas produzo muito pouco para mim, ou muito pouco algo realmente diferenciado, que saia do comum, como antes já fiz. A dispersão e a preguiça venceram um homem que correu demais durante um tempo e que se acostumou a trabalhar tudo a seu tempo.

Disciplina é a solução? Talvez. Mas para organizar as milhões de tarefa do ser humano atual, não para resolver essa angústia que vai além das soluções diárias. Está na falta de um sentido, de um porquê que valha ser perseguido. E por hoje chega.