domingo, julho 18, 2004

O Casamento

Há dois sábados atrás casou uma prima minha chamada vanessa, filha da minha madrinha, que é prima da minha mãe. Enfim, estávamos numa primaiada que só. Foram meus pais e eu rumo a Igreja São João, na Vila Carrão, Zona Leste de São Paulo.  Chegamos bem em cima da hora, a noiva estava quase a entrar na igreja. Isso porque ficamos vendo o fracasso do São PAulo perante o Santos. O clima no táxi era terrível: meu pai tentando falar algo, enquanto eu, em pleno mau humor, me calava e me indagava como o Ricardinho podia ter feito aquele gol aos 48 minutos do segundo tempo. Mas enfim... é vida que segue.
 
Mesmo  com o atraso eu quase não assisti a cerimônia, pois o cara que tocava uma corneta barulhenta, anunciando a entrada da noiva é um amigo que trabalha na HP. Quase não acreditei, nem ele, quando ouviu eu chamando pelo seu nome. Joel toca trumpete - o trumpete da igreja é chamado de triunfal, por causa de uma flâmula com um anjo tocando uma corneta, frescura - e vai tentar entrar na USP esse ano para fazer Música. Não acreditei, pois ele mora em Parelheiros, extremo sul da capital. E, pior: ele me disse que toca sempre lá, é até trumpetista fixo da igreja, pode?
 
Depois de ele tocar "Zaratusta" - foi ele quem disse, eu desconheço, apesar de achar o som semelhante aqueles temas de Star Wars - começou a marcha nupcial, que é de Mendelshon. Isso eu não sabia e achei formidável. bem, depois que ele desceu e eu o chamei, ficamos conversando um tempão sobre várias coisas, ainda surpresos por termos nos "achado" por ali, até chegar o fim da cerimônia e ele subi para tocar com a banda mais duas canções, belíssimas, por sinal.
 
Voltei ao casamento e ainda peguei os cumprimentos dos padrinhos, pais, aquela coisa toda. Vi minha outra prima Fabiana, irmã da noiva, chorar copiosamente, enquanto abraçava a irmã recém casada. A Fabi, como sempre a chamávamos quando pequena, tem a minha idade, nasceu um mês antes que eu apenas. Ela era legal, eu gostava dela prá caramba, brincávamos muito quando eu visitava-os. Mas hoje ela me aprece um tanto quanto distante, natural, apesar de tê-la achado meio esnobe, à distância. Devo, e espero, estar enganado. Minha mãe disse que ela está solteira, pois o namorado dela era muito ciumento e aí ela não aguentou. É foda isso, acabar umrelacionamento por causa de ciúme, as pessoas precisam repensar o que desejam para si nessa vida. Sei lá, divaguei aqui. Mas foi um momento bonito, como sempre, o cumprimento dos pais ao casal. Tudo sempre igual, também.
 
A noiva estava linda. Segyundo minha mã,e com um "tomara que caia", que na verdade, quer dizer que o vestido ia até a parte acima do busto, todo branco, cheio de coisas brilhantes que reluziam por toda a igreja. O buquê de flores vermelho-vinho contrastava magnificamente com alvura de seu vestido, enquanto que seu sorriso se ponta a ponta lembrava, nas covinhas, buchechas e queixo, a mãe dela, minha madrinha Irene.
 
Bem, fim do casório, hora da festa! Se bem que isso podia ser dispensado. Odeio fazer média nesses lugares que não conheço ninguém, sentando em mesas com pessoas desconhecidas, com cara de poucos camigos, enquanto sorvia goles e mais goles de líquidos alcoólicos como cerveja, uísque e batida. Eu levei o walkman e ligava-o, discretamente, para saber o placar dos jogos do Corinthians e, principalmente, do Palmeiras, concorrente direto do São Paulo pelo título Brasileiro. Mas não deu, um cara viu e perguntou como estava o placar dos jogos e eu louco para ir embora, assim como meu pai, que não tem saco para nada. A coisa só melhorou quando os noivos, que passavam de mesa em mesa cumprimentando os convidados, vieram até a nossa e a Vanessa, de forma cortêz e amigável nos convidou para sentarmos à mesa da família dela. Foi a salvação. A partir dali a festa começou para mim. Se bem que nada de anormal ocorreu, a não ser uma bebedeira dos diabos até o fim da festa.
 
Houve dança, as mesmas músicas de sempre, das antigas e tudo o mais, enquanto meu pai e eu ficávamos lá no fundo, bebendo e observando o nada, enquanto minha mãe dançava no meio do povo. No final, nos despedimos dos noivos e, finalmente, o Anderson, marido de minha prima, me cumprimentou, depois de duas gafes dele, em ter fingido que eu não existia. Mas enfim, não vou ligar para isso, pois eu já me sentia deslocado o bastante daquela gente toda que eu não conhecia, a não ser uma ou outra tia ou primo de vigésimo grau, parentes de minha mãe. Foi bom para ela, que não tem nenhum parente próximo vivo, e essas pessoas todas ela não verá tão cedo.
 
Para mim fi estranho, pois é um mundo distante do meu. Senti-me nostálgico por rever minha madrinha, meu apdrinho Osmar, meus primos e lembrar do tempo que eu os visitava, dormia na casa deles, passava semanas de férias lá. Era tão bom, gostoso, me divertia as tantas. Lembro quando acordava cedo e passava eprto do banheiro que meu padrinho fazia a barba e tomava banho logo cedo ouvindo a CBN, antes de ir trabalahr. Quando eu tomava banho minha madrinha me chamava, porque eu demorava muito, e ela achava que tinha me acontecido algo, ou era apenas para não gastar muita água.  isso numa das casas, pois eles sempre se mudaram muito por aquela região do Carrão, Vila Formosa, Vila Rica. Tudo ali perto. É um tmepo que se foi. Isso me deu um certo medo aquele dia, de não ver mais minhas primas, agora que estão crescidas. Sei lá porquê. Coisas bobas, mas que mexem conosco e só fazem sentido para nós. Vai ver eu estava bebado e reparei tudo isso com maior sensibilidade naquela festa. Enfim.
 
Já passava das onze e meia da noite quando pegamos um táxi  de volta para casa, novamente, pois minha mãe está com o pé machucado e usava um salto. Enquanto isso, a luz cega da noite iluminava tudo com uma calma que só o silêncio da negra escuridão noturna podia agraciar nossas almas, enquanto partíamos pelas ruas caladas e quentes da zona leste paulista. Umas gotas de sereno caíam nos vidros do carro e tudo pareceu bem de novo.