Uma constatação
E essa não é uma constatação agradável, eu diria. Acredito que o Renato também não gostou, daí eu levo a entender tudo o que ele passou naqueles anos. Só espero que eu não viva a metade do sofrimento que ele teve de enfrentar por causa daquilo. Os 10% que até o momento me cabem já me doem bastante.
A cada momento que isso bate na mente, o coração responde lá debaixo chorando. É um tanto quanto duro e meio dramalhão. Claro que não fico lamuriando por aí essas coisas, mas são pequeninos sinais que recebo aqui e ali a respeito de tudo isso, sobre ficar sozinho, não conseguir se dar bem, não ter o que se quer, se contentar com pouco, com o estar próximo, sentindo a dor de querer algo mais, mas não ter o que fazer para alcançar isto.
Uma frase de “Os Barcos” resume tudo isso: “É dor, se há, tentava, já não tento”. Porque, até por não ver algum horizonte, desanimar e não querer mais vislumbrar a possibilidade de se arriscar e se machucar mais uma vez, justamente por já antever que o filme não será diferente. Nunca mais.
É aquilo que está posto em “Vamos Fazer um Filme”: “Viver é foda, morrer é difícil, te ver é uma necessidade”. O cara que escreve isso merece uma estátua! Viver realmente é complicado, morrer ainda mais, e ver a pessoa que você gosta é como o açúcar no café, o ar para o ser humano, a água para quem tem sede. “Dai-me de beber que tenho uma sede sem fim”. Privar-se disso é tirar a própria vida. Mas, o que fazer para reverter isso, ou, até mesmo, mudar essa situação para si? Se eu tivesse as respostas, não faria as perguntas.
Como aquela outra que sintetiza bem os dias atuais: “E hoje em dia, como é que se diz eu te amo?” Pode parecer besta, porém, as relações humanas estão tão descartáveis hoje, que, até essa frase não é vista de maneira positiva e prazerosa de se pronunciar. Ninguém gosta de utilizá-la, pois a acham forte demais para ser dita a outrem. Isso revela um desapego ou um desejo de manter distância até de quem se gosta.
É triste demais isso. Vai ver que é pra se decepcionar menos. Mesmo assim, não deveria ser desta forma, se você gosta, não deveria haver problema em ser sincero e expor seus sentimentos; as pessoas devem se amar, sem pensar no amanhã. Mais uma lembrança: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há”. E não há mesmo.
Eu só queria poder cantar a próxima frase um dia: “E no meio de uma depressão, te ver e ter beleza e fantasia”. E transformar um dia escuro de tristeza e solidão em arco-íris e sol de alegria e sonhos. Algum dia. Apenas isso. Enquanto isso... “Só nos sobrou do amor a falta que ficou”.
Texto escrito nos dias 20 e 23 de junho.