domingo, agosto 01, 2004

A era das horas - que nunca passam

Hoje vai uma poesia, pois não estou a fim de escrever algo extenso e repetindo diversas coisas que me enchem o saco. Minha vida não tem sido muito cercada de novidades, a não ser em relação ao meu trabalho, mas isso ninguém gosta de ouvir, porque apaixonado por jornalismo é só jornalista mesmo e com esses eu converso sempre e dá prá trocar experiências legais e saber o que tá acontecendo por aí.

De resto nada tem sido muito novo, a não ser umas cervejadas por aí, que não acontecem nada demais, pois, como meu amigo diz, "nós somos moles demais" e é vero, se num fosse mole... e, como diz o Ultraje: "Ah, se eu fosse homem!" enfim, como sou homem, mas sou frouxo, o jeito é viver na cerveja e nas estórias... amigos distantes, vidas distantes, amores distantes, tudo tão distante que às vezes penso se realmente tenho alguma espécie de vida, se existo ou significo algo para alguém ou se já signifiquei nesse sentido que é tão complicado "achar" hoje em dia.

Só há o trabalho para preencher, mas sabemos todos que isso só preenche o vácuo por instantes, mas de noite é que tudo faz sentido, pois no silêncio é que ouço meus gritos, já disse uma vez Renato Russo... É a noite, quando deita-se a cabeça no travessiero e vai repensar todo o dia, a semana, o mês, o ano e percebe-se que permanece estacionado no nada e que sente falta de um alguém e lembra-se do último fora, da última e mais recente paixão e o mais recente fracasso computado na coleção e mais uma perda de amizade por causa de uma paixão "indevida", como costumam dizer, como se soubessem quando que o amor é devido e quando devemos deixar ele entrar pela porta que ele insistiu durante anos bater, até se cansar...

Mas de anda adiantou e só serviu para lembrar como é que se chorava compulsivamente e a dor que é ver o seu amor longe de você e não poder fazer nada e nem querer sair de casa ou encontrá-la, por saber que só os olhos serão presenteados com tão bela visão. Mas o resto ficará privado de um algo mais, do tato, do gosto, do cheiro, da audição... O jeito é ler blog dos outros e ver os outros felizes e tentar se contentar com a felicidade dos outros, enquanto a minha não vem.

The age of hours (original)

Na primeira semana fui desaconselhado a me apaixonar por ti
Aceitei e fiquei à espreita, deliciando-me de sua amizade
Dos passeios, das companhias e principalmente do teu sorriso
Tão belo e feliz que me enfeitiçou mesmo assim.

Na segunda semana abraços, sem brigas, telefonemas e longos papos virtuais
Gracejos, beijos no rosto e apegos
Tudo parecia caminhar com o tempo a favor
Do amor, me senti um garoto de novo, apaixonado
Mas, desta vez correspondido. Foi o que eu acreditei...

Terceira semana e nada mudou, você se afastou e eu sofri e nada entendi
Como poderia suportar essa estagnação?
Foi aí que eu percebi que você não percebeu a mim
Tudo o que pensei e fiz foi em vão, pois você renegou meu coração

Quarta semana e agora me sinto submerso, em lágrimas em profusão
Que chorei no domingo, da dor que varou meu espírito
O lixo é pouco para expressar como me senti
Por ser incapaz e ser invisível a olho nu
Por cair nas armadilhas dos feitiços de sua alma feliz
Mas não é sua culpa. É apenas mais um fracasso para a minha coleção.

O que resta agora é aquilo que me presta, ou seja, nada – mais uma vez
Afundar na dor de um coração cansado de tanto – unir os pedaços
Enquanto sigo pela era das horas – túnel do tempo
Ampulheta imóvel, sorriso perdido no ar – lágrimas nos olhos
Não mais esperança e sim amargura e desolação
O tempo acabou, é hora de apagar as luzes – adeus.

08/June/2004.