quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Rotina

Com essa letra do Camisa de Vênus não é preciso dizer mais nada. Até mais.

Rotina
(Marcelo Nova/ Karl Hummel/ Gustavo Mullem)

Amanheceu eu já acordei
Eu escovo os meus dentes
Eu estou OK.
Água fria no meio da cara
Corta o bode e você não pára
Na rua eu compro um jornal
Dou uma olhada quando fecha o sinal
Impostos, taxas, um horror
Morreu o candidato a governador

E pra você
O que?
Não, não pare
O que ?

Trabalho sempre com decência
Pra melhorar a minha aparência
Aperta o nó da minha gravata
Mas eu estou chegando na hora exata
Odeio relógio de ponto
As paranóias depois eu conto
Alô, Senhor!
Muito bom dia!
Desde ontem a gente não se via.

E pra você
O que?
Não, não pare
O que ?

Agora pode descansar
Tem uma hora para almoçar
É melhor um café lá da esquina
Do que a comida desta cantina
A tarde passa devagar
Aqui na cela do oitavo andar
Todos com cara de doente
Quando termina o expediente

E pra você
O que?
Não, não pare
O que ?

O que nós temos pra diversão
Guardas, freiras, mendigos no chão
Não deu certo peça divórcio
Ou compre um carro pelo consórcio
Meter a mão no dinheiro é crime
Quando não se joga no outro time
Trabalhe sempre como um jumento
Mês que vem talvez saia aumento

E pra você
O que?
Não, não pare
O que ?

sábado, fevereiro 03, 2007

Poema

Oi.

Quero deixar aqui o poema "Ausência", de Vinícius de Moraes, que eu ouvi trecho dele no documentário Pro Dia Nascer Feliz, que fala sobre a condição miserável da educação no Brasil. É lindíssimo. O texto é lido por uma guria de Manari, interior de Pernambuco, local pobre, que estuda e adora os poemas de Vinícius. É uma poetisa, culta, uma verdadeira pérola não garimpada naquela região distante. Seu nome é Valéria.

E sua história maldita de vida sem oportunidade via escola é contada em parte neste filme, que vi hoje no cinema. Vale a pena. E quem quiser ler mais textos do poeta citado, basta clicar no link que indico no fim do post. E, sem mais delongas, com vocês, Vinícius de Moraes.

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

MORAES, Vinícius de. ANTOLOGIA POÉTICA.

Retirado do link: http://www.revista.agulha.nom.br/vm.html#ausencia.