quarta-feira, janeiro 26, 2005

Relatos de Brasília – Parte II

Babá informou de uma reunião de setores de esquerda da CUT e outros movimentos sindicais, para debater as reformas sindicais e universitárias. Eu estava morrendo de fome, sem lugar para comer na Esplanada (só fui descobrir uma lanchonete no Senado Federal no 2º dia) e rumei para o auditório. Liguei para Antônio Jacinto, um dos assessores da senadora Heloísa que me confirmou que ela estaria lá. Antes, falei com Rosa, assessora do senador Suplicy, para ver a possibilidade de uma entrevista: “Vem aqui lá pelas 14h30 que ele deve passar por aqui nesse horário”, afirmou. Cheguei ao auditório e vi Babá, Genro, José Maria e Ivan Valente (“minha chance”, pensei), mas nada de Heloísa. Confundi-a com uma mulher, mas deu tempo de evitar a gafe de chamá-la.

Assisti o debate por uma hora, até me cansar e ver Valente sair. Dirigi-me até ele que me atendeu, dizendo, porém, ser impossível falar naquele momento, pedindo para conversar com a assessoria que talvez arrumassem um horário à noite. Já estava perdido mesmo resolvi conversar com o Zé Maria, que estava sentado numa ponta do salão, prestando atenção no discurso dos sindicalistas. Ele aceitou conceder uma entrevista e assim, trocamos telefones e
marcamos a conversa posterior para São Paulo. Ufa! Algo positivo, enfim.

Heloísa não apareceu na reunião e resolvi ir atrás do Suplicy. Depois de esperar uma hora o senador apareceu: sujeito alto e sério avistando no corredor. O interceptei antes que entrasse, pois tinha reunião com uns senhores que entraram logo antes dele. Expliquei o que desejava e ele nem sabia que eu existia, pois a assessora dele, Rosa Wasem, não teve tempo de falar sobre meu trabalho: “Não consigo falar com ele desde hoje cedo”, desculpou-se. Ele aceitou conversar, mas não naquele momento, pois tinha compromisso no Congresso e no dia seguinte viajaria à Barcelona (Espanha), podendo dar certeza de conversa no dia 27, após sua volta de viagem (fiz contato por telefone duas vezes, sem retorno de contato): “Mesmo assim, passe aqui amanhã à tarde que a gente tenta ver um horário”, disse o senador.

Feito isso resolvi passar no gabinete da senadora Heloísa para deixar algum recado para seu assessor. Passei também na liderança do Governo no Senado que era ao lado para tentar falar com o senador Mercadante. Recebi um atencioso “te ligo amanhã” de um de seus assessores, o Fábio Gramer, e me retirei daquele lugar repleto de jornalistas sentados no chão em meio a câmeras e luzes, aguardando alguma “bomba” vinda do governo naquele período morno de esforço concentrado no Congresso Nacional em que nada acontecia, nenhum projeto polêmico era votado (era época da votação da Lei de Biossegurança que tratava dos transgênicos e foi adiada na época por falta de quórum).

terça-feira, janeiro 18, 2005

Relatos de Brasília – Parte I*

*Este relato consta no livro “O PT e a Social-Democracia: de um programa de ruptura a administração do capitalismo”, de minha autoria, dedicado ao Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo, realizado em 2004. Trata-se de um lazer no meio de um livro teórico, além de servir como Diário de Bordo de Brasília, local onde passei três dias de setembro atrás de parlamentares que pudessem dar algum depoimento relevante ao trabalho. O texto faz parte, também, da compreensão de como é o jornalismo, razão do livro. Ele será colocado em partes, por conta de sua extensão.

A viagem (à Brasília) só foi confirmada na sexta-feira dia 10 (setembro), com alterações nos horários das entrevistas: dia 14 às 11h00, com o deputado Babá e no dia 15 às 12h00, com a deputada Luciana Genro. Eram essas únicas confirmações, além das promessas de assessores para falar com a senadora Heloísa Helena e com o senador Eduardo Suplicy. Dia 13 é a data da viagem. Depois de trabalhar o dia todo com a cabeça longe, preocupado em o que perguntar aos entrevistados, bate 16h00 no relógio. É hora de partir para a rodoviária.

Minha mãe aguarda na rodoviária do Tietê para entregar as malas e me acompanhar até o ponto de partida. A expectativa toma conta e às 17h30 o ônibus parte. Uma alegria imensa toma conta de mim em meio ao trânsito da Marginal Tietê. Durante a viagem, leituras para me interar do assunto, além de aprontar a pauta da primeira entrevista numa folha de caderno, entre os solavancos das estradas brasileiras. Por sorte a poltrona vizinha estava solitária e tive um pouco mais de “folga”.

Um cheiro terrível vem do banheiro do ônibus e impedia a concentração e o sono, mas tudo bem, o céu está repleto de estrelas... Após 14 horas de viagem e três paradas em Pirassununga (SP), Uberaba (MG) e Catalão (GO) chegamos em Brasília (DF) com uma ansiedade enorme saída pela minha boca. Por sorte uma amiga mineira que mora na cidade me buscou na “Rodoferroviária” (o local possui este nome pois abriga também uma ferroviária, esta, abandonada) e me levou a pensão de Dona Ira, uma senhora muito simpática, que me acolheu por três dias em sua casa. Após banho, café da manhã e troca de roupa eu estava transformado: Do jeans, da blusa de moletom e do tênis ficaram a calça e camisa sociais, blazer e gravata, todos pretos.

Eram 10h00 quando resolvi me encaminhar até a Esplanada dos Ministérios. Sem problemas para achar o ônibus, a dificuldade foi encontrar o Anexo III, onde está localizado o gabinete do deputado Babá, o primeiro da lista. São vários prédios e anexos, o que dificulta localizá-lo. Cheguei no gabinete cedo e me pediram para aguardar um instante. “Pode entrar”, disse Flaviana, uma das secretárias. Encontro Silvia, a assessora mais próxima do deputado e o próprio, de camisa azul clara e indefectível e característico bigode. Silvia nos deixa a sós e assim, fico frente a frente com o homem.

Um início tímido: algumas palavras e olhar sério dele e começamos, enfim. A conversa fluiu em mais de uma hora, com Babá muito solícito e falante, respondendo a todos os questionamentos, abordando a história do partido. Foi um daqueles bate-papos longos e gostosos, com o interlocutor falando e o receptor apreciando as informações ouvidas. Após esse tempo todo a assessora Silvia aparece e pede para encerrarmos, peço mais 15 minutos. Ela faz cara feia, eu peço 10 e ela autoriza.

Voltamos à entrevista, faço mais umas três perguntas e dou a conversa por encerrada. “Tem mais pergunta aí?”, diz Babá, olhando para o meu caderno de anotações. “Até tem algumas aqui”, respondo timidamente. “Pois então faça rapaz”, ordena de forma sorridente Babá. Com isso, ficamos mais uns 10 minutos além do tempo permitido e mais umas 5 perguntas foram realizadas e a entrevista termina num clima amistoso. Saí de lá com a sensação de dever cumprido. Mas a batalha apenas começara.