Cheguei do cinema há pouco, onde eu finalmente assisti ao "Control", longa-metragem que narra a história de Ian Curtis, a ascensão meteórica do Joy Division e seu fim trágico, com o suicídio de seu soturno vocalista.
Depois dos meus amigos falarem tanto desse filme, que era depressivo, mas muito bom, que tratava bem como foi a história dele e da banda, etc., eu tinha que ver. Quase que sai de cartaz. Sorte que o Belas Artes deixa alguns filmes muito tempo em cartaz e era o único lugar que ainda exibia a película. Peguei a sala Mário de Andrade. Salinha minúscula, diga-se, tela menor ainda, mas filme começando na hora e sem muitas enrolações.
A película foi toda feita em preto e branco, o que só enriquece o ar "cinza e triste" da cidade de Macclesfield, onde Curtis nasceu e viveu praticamente toda sua vida. Muito se fala do Ian Curtis ser um cara depressivo, que desejava morrer cedo, se drogava e não via a esperança em seu horizonte. Mas o que eu vi no filme foi um jovem comum dos anos 70, que passava tardes trancafiado em casa ouvindo discos de rock enquanto fumava cigarros e recebia amigos.
Ao conhecer Deborah, as coisas começaram a ficar mais difíceis. Não que a mulher tenha estragado sua vida, muito pelo contrário. Ele era feliz. Mas decidiu se casar com ela, arrumou emprego e passaram a morar juntos. Nesse meio do caminho, conheceu os caras que formariam, com ele, o Joy Division: Bernard Summer (guitarra/teclados), Peter Hook (baixo) e Stephen Morris (bateria). E aí, então, começou sua carreria de músico.
Teve a filha Natalie com Deborah, mas conheceu a "jornalista" belga Annik, com quem teve um caso de amor extra-conjugal que afetaria de vez o andamento de sua vida. A partir daí foi só confusão, confusão, confusão. E a certeza, cada vez maior, que o sonho de ser um astro do rock era pesado demais pra ele, que não mais queria suportar tudo aquilo. Há uma fala em "Control" que diz "Eu era feliz e não sabia". Desejava, tampouco, continuar casado, mas ainda amava Deborah, apesar daquela vida adulta de compromissos, obrigações e rotina. Por outro lado, amava também Annik, mas não conseguia ser feliz de nenhuma das formas. Pelo menos foram coisas que depurei com o filme.
Viver não é fácil, ainda mais tendo casado cedo, conhecido a fama muito prematuramente, ainda tendo epilepsia e uma amante. Ou seja, ser adulto já é complicado, ainda mais quando se toma decisões jovens demais. "Eles não entendem que eu me dou demais no palco e isso me afeta". Frase semelhante eu já li de outros fenomenais e sensíveis artistas que tampouco conseguiram segurar a onda. Falo em Kurt Cobain e Renato Russo. Enfim, tudo isso foi demais para Curtis, que se enforcou no dia 18 de maio de 1980, aos 23 anos, dias antes da primeira turnê pelos Estados Unidos, bem na época que o sucesso sorria para o quarteto inglês.
"Control" é espetacular, principalmente na reflexão quanto a quais camminhos seguir. E a reflexão é totalmente confusa, revelando bem como é difícil viver, tomar decisões e ter alguma certeza que está fazendo a coisa certa. Acho que me identifiquei com Curtis, principalmente na frustração de não saber o que está acontecendo, muito menos qual passo dar, já que "o passado faz parte do futuro, e o presente está fora de controle".
Encerro com a canção que termina o filme. Melhor, e mais depressiva, música para fechar a película e este post, não há.
Atmosphere - Joy Division
Walk in silence,
Don't walk away, in silence.
See the danger,
Always danger,
Endless talking,
Life rebuilding,
Don't walk away.
Walk in silence,
Don't turn away, in silence.
Your confusion,
My illusion,
Worn like a mask of self-hate,
Confronts and then dies.
Don't walk away.
People like you find it easy,
Naked to see,
Walking on air.
Hunting by the rivers,
Through the streets,
Every corner abandoned too soon,
Set down with due care.
Don't walk away in silence,
Don't walk away.
Ps: Como o filme foi feito em cima de um livro escrito pela espposa dele, há que se levar em consideração certos pontos de vista tratados no filme.