quarta-feira, janeiro 04, 2006

Tudo Passa...

Resolvi retomar um assunto que comecei no primeiro post da volta, sobre amigos e vidas que somem, etc. Parece coisa de adulto mesmo. Enquanto você é adolescente e pré-adulto tudo é importante, grave, o fim do mundo, a lealdade, a amizade, a preocupação e o coração vão a frente de qualquer coisa.

Um mero problema de relacionamento, uma paixão entre amigos, ou qualquer outra coisa que o valha fazem você perder horas e dias de sua vida discutindo o assunto até resolvê-lo, mede forças para curar a dor do parceiro, fala com as amigas para entender o que acontece, enfim, o mundo pára enquanto a unha permanecer encravada, a estrela-do-mar incrustada num coral gigante.

É o mesmo processo de quando os jovens namoram (jovens, pareço um velho falando assim): tudo é urgente, o coração parece sair pela boca, você vai morrer de tanta dor, etc. É incrível isso. Todos dão a atenção devida. Vai ver porque a gente, nessa época, só estuda, passa a maior parte do tempo deitado na cama olhando para a vida.

E mesmo trabalhando (como é o meu caso desde os 15 anos) a prioridade da existência é sair com os amigos, namorar, passar tardes trocando CD’s, fins de semana enchendo a cara, indo a cinemas, passeando em shoppings atrás de beijos e carícias... Até porque, o trabalho ainda não é uma profissão, a responsabilidade vai até certo limite, você não precisa ajudar muito sua família, etc.

Hoje não. A faculdade é mais importante, o trabalho já virou profissão e você se mata em tempo integral para solucionar os problemas em seu emprego. O namoro virou casamento e pagar as contas ficou mais importante do que sair com os amigos. Falta dinheiro. Sobra rotina. Falta amizade. Sobra preocupação.

O pensamento no presente, no instante, no prazer momentâneo dá lugar à reflexão no futuro, na casa própria, no carro, nos filhos, no emprego, nos estudos, no que vou ser quando crescer, em como vou sobreviver sem meus pais, na merda de salário que recebemos e nas contas que se acumulam na mesa. Enfim, a vida parece acabar. Quase não há espaço para a amizade, o carinho, o amor, o respeito. Cada vez mais todos se afastam em seus cabelos brancos e suas carteiras vazias.

Nem ao menos um telefonema para avisar que seu número residencial mudou, para quando você quiser ligar não ter a decepção de ter uma mulher duma loja de bebês atender do outro lado da linha o que deveria ser a voz de um velho amigo.

Ao nascer o mundo é um lugar bem pequeno, o que facilita nosso controle, além de termos toda a sua atenção voltada a nós. Na infância o mundo se alarga e os medos são cada vez maiores, mas ainda a preocupação é menor.

Já na adolescência as pessoas começam a marcar nossas vidas de forma indelével, mas ainda permanecem como parte das nossas vidas. Já quando crescemos de vez e ficamos adultos o mundo é algo infinito e o medo passa a ser desespero, já sem os amigos e os amores para serem redes quando caímos de um prédio de 30 andares.

É triste, mas um dia, quem sabe, quando o mundo for apenas até a esquina, como pode ser quando formos bons velhinhos, todos nós possamos voltar a nossas casas e vermos quem amamos mais próximos de nós. Pelo menos não vai ter trabalho, escola, filhos, casamento, para atrapalhar. Sonhar um instante pelos bons tempos de adolescência não paga nada e não machuca ninguém.